Espectadores

No geral, a maioria das pessoas é ocupada. Temos muitas coisas pra fazer e muitas outras que desejamos realizar. Em outras palavras, a maioria de nós não tem muito tempo disponível, o que explica, até certo ponto, por que evitamos o confronto, questionar ideias que podem nos parecer pouco pensadas ou muito arriscadas.

Mas a ladainha habitual de desculpas para não se expor – como falta de tempo, falta de interesse, falta de coragem – deve ser questionada. O ponto é que os funcionários que ficam calados e não fazem/dizem nada dão um mau exemplo aos outros colaboradores. Passam a ideia que o bom funcionário não questiona, simplesmente segue ordens.

Ter colaboradores com perfil de “devotados seguidores” foi por muito tempo até mesmo, um anseio das organizações, afinal, todos queremos pessoas que consigam cumprir bem, os regulamentos e procedimentos da empresa. Mas até onde é desejável não sermos questionados como líderes? Ou não termos nossas diretrizes e estratégias revisitadas?

Em situações extremas pode ser mais fácil compreendermos certos riscos que assumimos ao ter ou mesmo ser como bons “soldados”. A necessidade de entender o que aconteceu na Alemanha durante o período do partido nazista (nacional socialista do trabalhador) quase sempre tem apontado para um único homem, Adolf Hitler. É certo que os lideres (e mesmo os ditadores) simplificam as coisas, mas onde estavam as outras pessoas pensantes da Alemanha? Quem o questionou suas diretrizes?

Alguns de seus devotados seguidores eram médicos, advogados e mesmo oficiais com boa formação, como conseguiram justificar para si mesmos tantas atrocidades? Como mataram e torturaram pessoas inocentes e indefesas? Por vezes, extraindo delas joias e propriedades? Certamente eram pessoas que se consideravam decentes, com ética e outros valores. Algumas mesmo após o final de  seu julgamento, seguiram acreditando que fizeram o seu melhor – cumpriram ordens. Outras não conseguiram conviver consigo mesmas e terminaram com a própria vida.

Em nossas empresas, temos pessoas que roubam por que observam outras fazendo mesmo, ou ainda omitem dados e informações  pois querem proteger-se, sem questionar as consequências de suas ações. Mas quando uma empresa quebra, ninguém fica imune a isso, afinal, uma empresa não “dorme” sadia e “acorda” quebrada, o que aconteceu? Quantos foram omissos?

Cabe lembrar que todos temos responsabilidade pelo que acontece, seja nas proximidades, no nível pessoal, ou à distância. Abrir mão dessa responsabilidade no nível individual implica abnegá-la no nível do grupo (organizacional). Assim que o hábito de somente observar e não fazer nada se instala, fica difícil mudar. O melhor, então, é envolver-se, participar com frequência. Ser omisso é abrir mão do direito de decidir, transferindo esse direito para os que têm mais poder, autoridade e influência. Às vezes, temos sorte: Nossos lideres e gerentes são bons. Mas, outras vezes, não somos assim tão sortudos. Quando isso acontece, observar e não fazer nada é correr o risco de passar de mal para pior.

Ser espectador é um risco para os funcionários – abrem mão de uma vida com sentido. Igualmente para os líderes é um risco ter espectadores e não colaboradores!

 

Consulta: Como os Seguidores Fazem os Lideres – Barbara Kellerman.

 

Atuo na área de desenvolvimento de competências de liderança e empreendedorismo desde 2002, utilizando metodologias ativas que fortalecem a autorresponsabilização por meio de oficinas, palestras e cursos. Credenciada como facilitadora do Seminário Empretec e da ENAP (Escola Nacional de Administração Pública) há mais de dezoito anos. Sou formada em Engenharia Elétrica pela UnB, com formações em Gestão de Pessoas com base em competência, Coach (pela Sociedade Brasileira de Coaching) entre algumas outras. Entre clientes: Grupo InPress, Banco do Brasil, Sebrae Nacional, Sebrae DF, Sebrae AP, Sebrae MG, Almeida França Engenharia, IFCT/ Volta Redonda; CTIS, PGR, entre outros.

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