A solidão do cargo
Muito se fala sobre a liderança e em especial se comenta sobre a falta de líderes. Será por falta de exemplos? Mesmo quando temos tantos exemplos tanto fora – Mandela, Steve Jobs, Barack Obama, Bill Gates e outros – quanto dentro do país – Abílio Diniz, Luíza Helena Trajano, Lula, Shieko Aoki e outros tantos. Mesmo quando suas histórias estão tão acessíveis? Seus passos mapeados? Ou será que assusta a solidão da liderança? Sua exposição?
Há cargos que tem por premissa uma certa solidão, em especial na tomada de decisões. É claro que é possível compartilhar muita coisa com a equipe e com os pares, mas a decisão é solitária e com ela, suas consequências – seus erros e acertos. Poucas atividades exigem tanto a tomada de decisão quanto assumir a liderança de alguma tarefa, e como consequência, sua elevada exposição.
A cultura brasileira é muito coletiva, agregadora. Promover justiça – uma das árduas tarefas do líder – exige independência emocional frente ao grupo. Não significa estar desconectado, mas é não estar tão próximo a ponto de tornar-se refém na tomada de decisão. É um papel difícil e tal como dito anteriormente é parte do cargo ou postura assumida quando se assume a liderança. Quando o líder assume para si, em tempo integral, este distanciamento, ingressa numa ” torre de marfim”, que o desconecta da realidade. Liderar é promover justiça mas também é servir, é exercitar o amor.
Amar é importar-se com o outro de forma genuína. É num ambiente de amor e justiça que as pessoas tendem a dar o seu melhor. Assim, para ser um bom líder é preciso ter momentos para conectar-se intensamente. Desta forma, para ser um bom líder é interessante encontrar espaços onde possa experimentar a ausência da hierarquia ou onde possa servir e seguir. Por vezes em casa, às vezes em trabalhos voluntários, locais onde possa exercitar o “estar junto”, o “dar de si mesmo”.
Nestes outros espaços poderá avaliar seus “líderes”, bem como, seus próprios sentimentos, dúvidas e questionamentos quanto à postura destas pessoas em papel de comando. Ter consciência da exposição, da fragilidade e desafios do papel da liderança, a partir de um outro ponto de vista poderá fortalecer sua consciência e competências pessoais. Estes “exercícios” contribuem para uma postura mais equilibrada e flexível frente à própria equipe, no ambiente em que ocupa o papel de liderança.
É este árduo caminho onde erros e acertos pessoais ficam tão visíveis, onde o acerto de ontem não garante o bom resultado de amanhã, onde a aprendizagem precisa ser contínua que, por vezes, afasta as pessoas de assumirem a liderança. De fato não é um caminho fácil mas pode vir a ser um caminho de muito significado e conquistas.
Nas oficinas voltadas ao fortalecimento das competências de liderança, utilizamos uma metodologia que facilita a reflexão a partir da estória de outros, da conversa em grupos e da visualização. Abordagens que tem permitido muitos descobrirem mais de si mesmos e compartilhar aprendizados e desafios.